terça-feira, 25 de março de 2008

"O PCdoB não é partido de coronel"


Entrevista de Luís Sena ao blog Pimenta na Muqueca

Uma das certezas reservadas para 2009 é a de que, após 12 anos, a Câmara de Itabuna não terá entre seus membros o comunista Luís Sena. Por uma decisão do PCdoB, o político oriundo do movimento sindical partirá para uma difícil briga pela cadeira de prefeito. Nessa conversa com o Pimenta, Sena fala da necessidade de união das "forças progressistas" e, num recado endereçado ao PT, considera que o momento não é propício a imposições. O pré-candidato afirma que o PCdoB tem conversado com diversos partidos, inclusive o PMDB, e diz que não assumirá a culpa caso a unidade não se concretize.

Pimenta - Em Itabuna, há um grande número de pré-candidatos a prefeito e o eleitor desconfia de que muitos desses nomes não levarão a disputa até o fim. E quanto ao PCdoB?

Luís Sena - O Brasil vive um novo momento. Muita gente não acreditava na eleição de um presidente operário, sindicalista, nordestino, que enfrentou todo tipo de adversidade. Lula se elegeu e se reelegeu com larga margem de votos, mesmo com um lado da imprensa tentando bater de qualquer jeito. A opinião pública mostra a aceitação do governo Lula. É um novo momento que a gente está vivendo. Ao mesmo tempo, a Bahia também está começando a colocar em prática esse novo momento e o PCdoB entende que o partido que antes era das lutas mais sindicais, mais populares, dos movimentos estudantis, agora chegou o momento da gente de certa forma fugir daquela idéia do partido de agitação e mostrar que os nossos quadros, além da questão da defesa firme do trabalhador, de pregar o socialismo, o partido demonstra que precisa ousar. É a ousadia de mostrar que a gente tem competência para administrar, seja uma prefeitura como a de Itabuna, seja um governo de Estado.

Pimenta - Então a candidatura é pra valer?

Sena - Nós estamos conclamando a cidade como um todo e as principais forças para interferir nesse processo (definição da candidatura). Por isso que a nossa candidatura é para congregar todas as forças políticas, porque nós entendemos que em Itabuna ninguém ganha a eleição sozinho e a cidade está cansada de ficar na dependência de dois nomes. No caso do PCdoB, nós não queremos apenas ser um nome novo para prefeito de Itabuna. Queremos apresentar um projeto novo para a cidade.

Pimenta - Quais são as linhas gerais desse projeto?

Sena - Itabuna está vivendo um verdadeiro caos. O atual prefeito, desde que assumiu, não apresentou nenhum plano administrativo e implantou o sucateamento e a desativação de instrumentos importantes. Sucateou a saúde, tirando de Itabuna a condição de referência, o que acaba atingindo economicamente a cidade. A única área do município que não teve um verdadeiro caos foi a educação, onde o próprio secretário diz textualmente que manteve o modelo anterior. Mas, nas outras áreas, não existe um plano para o saneamento básico, a urbanização. Os bairros estão abandonados e chega-se ao ponto de as empresas de ônibus dizerem que prestam um mau-serviço em decorrência do acesso difícil, o Samu, o Corpo de- Bombeiros, a Polícia Militar não chegam em algumas áreas, por conta desse abandono. Então, a cidade está vivendo um clima de baixa estima. O abandono, o desemprego são muito grandes. Existe uma carência, não há um plano de assistência social.

Pimenta - E o que você propõe para consertar esse estrago?

Sena - Estamos propondo um plano que favoreça a retomada do desenvolvimento da cidade de forma sustentável, objetivando a inclusão social. Esse plano prevê a revitalização da saúde, melhorar os índices sociais, atrair investimentos, proteger os investidores já estabelecidos e incentivar o crescimento da cidade para gerar emprego e renda. Será um projeto que não vai sair do prefeito ou do partido do prefeito, pois nossa idéia é democratizar ao máximo. Nós precisamos fazer com que os recursos da cidade sirvam para melhorar a qualidade de vida das pessoas, sem dar ênfase a políticas meramente assistencialistas. É preciso que o cidadão se veja na condição de se emancipar e exercer efetivamente a cidadania.

Pimenta - Quando você fala que o PCdoB era o partido das lutas e agora busca ocupar espaços mais bem comportados na política, isso não indica que o PCdoB está, de certa forma, se tornando um partido burguês?

Sena - Não é que esteja mudando o perfil, o partido está absorvendo uma nova atribuição, com o envolvimento de cada militante, diferente do que era possível fazer antes. Nós vivíamos num regime antidemocrático e havia necessidade da luta, do enfrentamento, e o PCdoB tem essa marca e foi um dos principais partidos a organizar isso. Vários militantes foram perseguidos e trucidados. Tentaram dizimar o PCdoB diversas vezes. Agora, no momento em que estamos consolidando a democracia, vamos demonstrar que, além da aguerrida luta pelo socialismo em que nós acreditamos, também temos competência para gerir. Continuamos sendo o partido das massas, dos movimentos sociais, mas também podemos contribuir gerindo a cidade, o Estado e, quem sabe, tenhamos a felicidade de ver na presidência da República alguém do PCdoB.

Pimenta - O partido apresenta seu nome como núcleo de uma desejada unidade das "forças progressistas", mas que estratégias estão sendo colocadas em prática para que você exerça uma atração sobre as outras legendas?

Sena - Pela seriedade do partido, a nossa forma de fazer política, o respeito que nós temos, a conversa tem sido bastante louvável com todos esses segmentos. Com o PSB, nós temos um acordo nacional, que chega ao nível de Estado e também ao município. Aqui, o PSB tem o nome do doutor Edson Dantas como pré-candidato e nós temos um acordo para batalharmos juntos e, de certa forma, estamos sintonizados. Temos conversado com PMDB, PDT, PMN, enfim, todos os partidos que fazem parte da base do governo Wagner.

Pimenta - Como estão as conversas com o PT?

Sena - Não poderia ser diferente o tratamento com o PT, porque nós entendemos que a experiência com a eleição e reeleição de Lula, e agora a eleição de Wagner, é uma experiência positiva. Precisamos fazer com que esse núcleo construa essa forma de fazer política aqui no município. A cidade de Itabuna não pode ser governada por uma só força política, mas por setores que se reúnam em torno de um nome. E o que o PCdoB tem para oferecer é a seriedade, a manutenção dos nossos compromissos com os aliados, o que é positivo para lograrmos êxito nessa idéia da unidade.

Pimenta - PT e PCdoB estão estão sofrendo incompatibilidade de gênios? Ainda dá para discutir a relação?

Sena - A responsabilidade que o PCdoB tem na condução desse trabalho nos coloca muito a condição de ficarmos atentos às movimentações que existem. Hoje, no Estado, existe uma crescente mobilização do PMDB e as forças que compõem o governo Wagner e o governo Lula têm o dever de não deixar que seja desvirtuada a vitória das correntes progressistas. Aqui em Itabuna, temos feito um trabalho de forma respeitosa, conclamando as forças que compõem essa frente para verificarem qual é o nosso objetivo maior. Cada partido tem a liberdade de lançar candidatos, mas precisamos ter um devido momento em que vamos avaliar a conjuntura e não podemos deixar que o que está acontecendo em Itabuna continue. Ou seja, a cidade permanecer sob um governo retrógrado, sem nenhum compromisso com a cidade. Precisamos dizer não a esse tipo de política e aí é interessante a unidade.

Pimenta - O problema é na hora de decidir quem fica por cima e quem fica por baixo...

Sena - Não é a questão de um partido ser melhor do que o outro. Todos nós temos história de construção de militância, de compromisso, de coerência, ética e o eleitor é que vai saber definir o seu voto. Mas é preciso que os partidos tenham a competência de passar a mensagem correta para a população.

Pimenta - O PCdoB abre mão da cabeça de chapa em nome da unidade?

Sena - Estamos visitando os bairros, conversando com as lideranças, convencendo cada pré-candidato a vereador a falar com o seu eleitorado. Isso tem favorecido muito e vai ter o momento de se fazer uma avaliação definitiva. É claro que o PCdoB não será irresponsável e não assumirá culpa nenhuma por não acontecer a unidade na cidade de Itabuna. Em Itabuna, nenhuma força política ganha a eleição sozinha.

Pimenta - Você acha que o PT, ao não abrir mão da cabeça de chapa, dificulta a unidade?

Sena - Impor e dizer que não abre mão da cabeça de chapa dificulta, porque pode ser que o nome apresentado por determinado partido não tenha densidade eleitoral.

Pimenta - É o caso do nome posto pelo PT?

Sena - Eu diria que é muito cedo para avaliar essa questão. O PT tem direito de lançar o seu nome, assim como o PCdoB fez. A militância considerou a história do vereador Luís Sena, com três mandados, reconhecido como um dos vereadores mais atuantes, candidato a deputado estadual com 11.001 votos na cidade de Itabuna, enfrentando na disputa o cofre cheio de dinheiro do filho do prefeito. Então, eu me sinto hoje capaz de disputar a eleição, mas essa decisão não pode ser só do PCdoB, assim como não pode ser só do PT.

Pimenta - A eleição de 1996, quando as esquerdas se dividiram e facilitaram a vida de Fernando Gomes, constitui um trauma para o PCdoB?

Sena - Naquela época, faltou um pouco mais de amadurecimento de todos. Foi talvez o primeiro momento em que tentamos aquele tipo de experiência e a decisão (de ter candidato próprio) não foi só do PCdoB. Aquilo realmente criou um quadro de dificuldades, mas o PCdoB não assume a responsabilidade total. Se houvesse mais tato das forças progressistas, a história seria diferente.

Pimenta - Existe a possibilidade de você voltar a disputar uma eleição para a Câmara de Vereadores?

Sena - Um dos fatores que favoreceram ao PCdoB construir uma chapa de pré-candidatos a vereador exclusiva foi justamente o lançamento do meu nome para a majoritária. Essa candidatura tem que ser construída por todos os militantes, simpatizantes, amigos, para que o PCdoB possa disputar o pleito. Mas Luís Sena não terá o retorno à candidatura de vereador. Eu ajudo muito mais o partido colocando o meu nome para essa disputa ao cargo Executivo. A candidatura é pra valer e estamos discutindo com a militância, porque o PCdoB faz avaliação constante, diária, semanal, quinzenal. É um partido que se organiza dessa forma, não é um partido de coronel, de xerife.

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Charge de Sinfrônio para o Diário do Nordeste