sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Inácio Arruda: oposição e mídia tentam impedir que Lula faça sucessor

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim que a mídia e a oposição tentam impedir que o Presidente Lula faça o sucessor nas eleições de 2010 (clique aqui para ouvir o áudio).
"Eles vão criando dificuldades porque o Lula não pode chegar em 2010, passando por 2008, assim, voando... Então, é preciso (para a mídia e oposição) criar mil e um mecanismos de desestabilização para que enfraqueça o Presidente", disse Arruda.
O senador Arruda lembra que o "enfraquecimento do Presidente nessa disputa também significa o enfraquecimento da capacidade do Estado de cumprir sua obrigação, o seu dever". Para ele, desestabilizar o Presidente é criar uma situação de anarquia e incapacidade do Estado. "E quem sofre com isso, amargamente, é a população", disse Arruda.
Inácio Arruda disse que o Presidente Lula deveria reagir mais. "O Governo, na ânsia de poder votar, quer partir para uma ação de dizer: 'vamos votar e deixa a oposição falar'. Só que em determinadas situações não é o problema de falar e deixar falar. É o problema de enfrentar o embate político", disse Arruda.
O senador Arruda lembrou também que no primeiro turno das eleições de 2006 a campanha virou um ataque brutal contra o Presidente Lula e ele tratou a eleição como "uma coisa de água com açúcar". No segundo turno, como não tinha mais alternativa, o Presidente Lula teve que "ir para cima do adversário", com um debate e enfrentamento político forte.
"Quando fez esse enfrentamento, essa direitona brasileira e seu aparato tiveram que recolher, teve que dar uma encolhida forte e permitiu a vitória fácil do Lula... Então eu tenho essa opinião que em determinados momentos, não adianta Ministro falar, é o Presidente da República, o enfrentamento político é aqui", disse Arruda.
Arruda é a favor de que em determinados momentos, o Presidente Lula faça o "enfrentamento político" em atos e solenidades oficiais ou até mesmo em rede nacional de rádio e televisão.
Inácio Arruda disse também que a mídia e seus grandes anunciantes governam, porque conseguiram derrubar a CPMF. "Governa, porque ela vai fazendo determinações, vai dizendo que 'tem que ser assim' e 'tem que ser assado' e por aí vai", disse Arruda.
Arruda disse que o papel oposicionista da mídia brasileira já ocorreu em outros momentos da história do Brasil. Ele lembrou que o escritor José de Alencar, que também foi deputado federal, teve que criar cinco jornais para responder à oposição da mídia. "Ele dizia: 'como eu vou responder os colunistas? Eles fazem o trabalho do dono do jornal'", disse Arruda.
Segundo Arruda, o Patriarca da Independência José Bonifácio, depois de ter sido deportado como inimigo da pátria, também teve que criar jornais para responder aos ataques da oposição.
Arruda disse que a postura da mídia foi diferente no Governo de Fernando Henrique Cardoso. "No Governo passado havia unanimidade midiática em todo projeto em curso", disse Arruda.
Leia a íntegra da entrevista com Inácio Arruda:

Paulo Henrique Amorim – Senador, eu li recentemente uma entrevista que o senhor deu ao portal Vermelho, que é o portal do PC do B, que, na minha modesta opinião, talvez seja o melhor portal de partidos políticos brasileiro, em que o senhor diz que, na sua opinião, há uma ligação intrínseca entre a oposição é a mídia que, este ano, ano de eleições, se manterá na ofensiva contra o Governo Lula. Eu gostaria que o senhor falasse mais sobre isso, inclusive é um conceito que o senhor usa, que “eles, a oposição e a mídia, estão tentando de toda sorte criar condições de desestabilizar o Governo”. O que o senhor entende por isso?

Inácio Arruda – Olha, Paulo, esse fato é permanente e parece que é um viés da história brasileira. Eu lembro que o José de Alencar, o escritor, que também foi deputado federal e cearense, ele teve que criar inúmeros jornais. Na época, talvez, isso fosse mais fácil, porque você respondia com seu próprio jornal. Porque ele até dizia: “Como é que eu vou responder aos colunistas? Eles fazem o trabalho do dono do jornal. Às vezes são mais reais que o dono do jornal”. Teve que criar cinco jornais.

Paulo Henrique Amorim – Cinco?

Cinco. O Patriarca da Independência, José Bonifácio, teve que fazer a mesma coisa. E depois foi deportado, como inimigo da pátria. Veja esse papel da mídia brasileira, como ele tem trabalhado. Sempre fica essa coisa de a gente ter que comparar, mas no governo passado havia unanimidade midiática em todo o processo em curso. Como eu era da posição, o que eu e meus colegas de oposição falavam eram coisas de xiita, tresloucados, que não conhecem o Brasil, não sabe da realidade, e por aí vai. Quando nós chegamos ao Governo, continuamos sendo tresloucados. Não conseguimos mudar de jeito nenhum. Então, quer dizer, esse trabalho da mídia brasileira, sempre se diz “mas tem liberdade de expressão, liberdade de opinião”, isso nós todos estamos de acordo. Mas onde é que tem liberdade de opinião, se você tem que ter seu próprio órgão de comunicação pra dizer o que você pensa? Então, isso não é liberdade de opinião. Então, esse debate, com o problema da liberdade de opinião versus órgãos de comunicação é carente. Liberdade de opinião todo mundo tem. Agora, o controle dos órgãos de comunicação brasileira, especialmente a área de radiodifusão de som, imagens no Brasil, televisão, rádio, que têm um impacto muito grande no meio do povo, se ouve ali um telejornal, às vezes chega a ser ouvido por 60 milhões de pessoas num dia. Então, você fazer um elogio, Paulo Amorim, o maior jornalista do Brasil...

Paulo Henrique Amorim – Não há esse perigo.

Inácio Arruda – Não há esse perigo, porque você viraria santo e o papa ia lhe convidar para ser canonizado. Agora, se for o inverso você vai para o inferno e nem Dante vai conseguir reproduzir as imagens que você vai ter que passar.

Paulo Henrique Amorim – Mas por que o senhor diz que isso pode chegar ao ponto de desestabilizar, porque isso é muito sério.

Inácio Arruda – São os paradoxos. Nós éramos da oposição e às vezes a gente cometia muitos desatinos. Mesmo assim, Paulo, eu lembro que o PC do B, que era pequeno, eram dez, onze, doze votos que nós tínhamos na Câmara, mas nós chegamos a votar por duas vezes a CPMF. Por quê? O nosso compromisso com o Governo Fernando Henrique era zero, com o Governo Fernando Henrique. Agora, com o Brasil, nós tínhamos todo o compromisso. Quando nós compreendemos que aquela medida, que aquele tributo tinha significado para a população, para melhorar a vida do povo, para permitir que o Estado tivesse condições de investir um pouco mais para melhorar a vida do povo, nós sentamos, nos reunimos, o PC do B, a despeito de ser oposicionista ferrenho do Governo Fernando Henrique, vai votar favoravelmente, é uma medida a favor do Brasil. Vem agora o PSDB, instigado pela mídia, e numa campanha puxada pela Fiesp...

Paulo Henrique Amorim – Fiesp e a mídia.

Inácio Arruda – Fiesp e mídia, um conluio midiático com os seus anunciantes principais e insufla o PSDB e o PFL – agora Democratas –, para tomarem a posição de votarem contra a CPMF, um imposto que talvez seja o único imposto... Na Constituição tem a previsão de se estabelecer o imposto para as grandes fortunas, Paulo. Até hoje não conseguiu ser regulamentado. O último substitutivo está na Câmara, da ex-deputada, economista que vive no Rio de Janeiro, portuguesa, Conceição Tavares.

Paulo Henrique Amorim – Maria da Conceição Tavares.

Inácio Arruda – Conceição Tavares, excelente, fez um grande trabalho. (O substitutivo) ficou lá na Câmara, não sai do lugar. O único tributo no Brasil que as grandes fortunas tinham que pagar era a CPMF, nenhum outro. Porque os outros eles conseguem meios vários de driblar aquele tributo, driblam ICMS, driblam IPI, driblam muitos e muitos tributos com argumentos fortíssimo de manutenção de emprego, manutenção disso, capacidade de enfrentar concorrência internacional etc. então, tem razões vastas para que eles deixem de pagar os tributos. O único que eles não tiveram como escapar era a CPMF, que era essa “merrequinha” de 0,38% sobre as transações que eles realizavam em qualquer órgão bancário, em qualquer agência bancária, em qualquer meio bancário do país. Eles derrubaram esse imposto. Foi um trabalho midiático, Paulo. Porque não era um problema só de ser para saúde não. Era um problema de permitir que a saúde fosse atendida e, ao mesmo tempo, o governo tivesse uma folga para poder ampliar a capacidade de investimentos dos Estados em obras de infra-estrutura que, às vezes não contam como saúde, mas uma boa drenagem urbana em megalópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, essas grandes cidades que têm grandes regiões metropolitanas, um trabalho de drenagem urbana evita, por exemplo, a proliferação maior do mosquito da dengue e outras mazelas que atingem a população, e por aí vai. E às vezes isso não é contado como saúde, mas é um investimento de saúde pública. Então, essa capacidade do Estado, de investir, eles vão criando dificuldades, porque o Lula não pode chagar em 2010, passando por 2008, voando. Ele não pode chegar em 2010 dizendo, “nós vamos fazer a sucessão presidencial” e o campo que vai continuar governando o Brasil, pelas condições favoráveis, digamos assim, de um Governo de Lula, vai ser esse campo progressista brasileiro, que vai dar continuidade nesse processo de formatação de um desenho de um projeto nacional que ainda estamos muito preliminarmente trabalhando isso, mas é um desenho. Infra-estrutura, portos, estradas, ferrovias... Tudo isso ainda é embrionário.

Paulo Henrique Amorim – Então nós estamos falando, na sua opinião, de impedir que o Presidente Lula faça o sucessor?

Inácio Arruda – Tenha força para dizer, “o sucessor passa por mim”. É preciso criar mil e um mecanismos de desestabilização para que enfraqueça o Presidente. Só que o enfraquecimento do Presidente nessa disputa também significa o enfraquecimento da capacidade do Estado de cumprir a sua obrigação, o seu dever. Então vamos para o debate político, não preciso desestabilizar o Presidente, porque desestabilizar o Presidente da República num sistema como o nosso... Nosso sistema não é Parlamentarista em que cai o gabinete e o Presidente convoca uma eleição e retoma o gabinete, é Presidencialismo. Desestabilizar o Presidente é você criar uma situação quase que de anarquia do Estado e de incapacidade do Estado e quem sofre com isso, amargamente, é a população.

Paulo Henrique Amorim – É o seguinte senador, e como é que se sai desse enrosco, porque é que o Governo e esse campo político que sustenta o Governo não conseguem encontrar uma alternativa a esse golpe, se a gente pode assim chamar, da mídia e Fiesp para derrubar a CPMF pela mão do PSDB e pelos Democratas?

Inácio Arruda – Aqui tem uma máxima no Congresso Nacional que é a seguinte, a oposição fala e o Governo vota. Só que ao falar e ao se articular com poderosos instrumentos que tem força no poder real brasileiro, e a mídia tem força no poder real porque ela é fruto dos seus anunciantes. Os anunciantes são grandes corporações que têm influência junto a senadores, junto a deputados, junto a juízes, junto a ministros de tribunais. Então, essa força, quando ela se movimenta, ela não só, muitas vezes, cala o Governo. Porque o Governo na ânsia de poder votar quer partir para uma ação assim, vamos votar e deixa a oposição falar. Só que em determinadas situações não é o problema de falar e deixar votar, é o problema de enfrentar o debate político. Eu lembro que no primeiro turno de 2006, a campanha virou aquela coisa meio água com açúcar. Um ataque permanente e brutal em cima do Lula e o Lula tratando a eleição como uma coisa de água com açúcar. No segundo turno, que não tinha mais alternativa, o Lula teve que ir para cima do adversário, fazendo um debate político, um enfrentamento político forte. Quando fez esse enfrentamento, essa “direitona” brasileira, com seu aparato, teve que se recolher, deu uma encolhida forte e permitiu a vitória fácil do Lula no segundo turno.

Paulo Henrique Amorim – Por que é que o Lula não reage mais?

Inácio Arruda – Porque fica nessa idéia. Tem essa idéia, o Governo tem que fazer as coisas e governar. Por que é que a mídia é infestada de escândalos? Eu até ia fazer um pronunciamento ontem anunciando mais um escândalo, que era o fato escandaloso do mês de janeiro ter sido um dos melhores meses em toda a história de venda de automóveis.

Paulo Henrique Amorim – Isso é um escândalo.

Inácio Arruda – Mas aí o pessoal meu me aconselhou, mas isso aí não vai sair em canto nenhum. Mas como é possível, isso movimenta a economia.

Paulo Henrique Amorim – Não há a menor possibilidade desse dado sair no Estadão, senador (risos).

Inácio Arruda – O que tem de oficina no meu Estado para concertar carro... Esse povo está ululante (risos). Mas aí o pessoal me convenceu e disse, não fala isso, isso aí não vai dar certo, só a TV Senado que vai dar, é melhor você ficar quieto. A idéia de que é só escândalo para poder criar dificuldades, fica aquela coisa assim, o país está indo para um lado e a mídia, um passo para a direita, para outro.

Paulo Henrique Amorim – Mas acontece que essa mídia governa, senador...

Inácio Arruda – Governa, porque ela vai fazendo determinações. Vai dizendo que aqui tem que ser assim, aqui tem que ser assado e por aí vai. Então eu tenho essa opinião de que em determinados momentos o Presidente da República... O sistema, Paulo, o modelo nosso é Presidencialista, não adianta Ministro falar, é o Presidente da República, o enfrentamento político é aqui. Então ele vai a um ato que ele realiza, porque ele tem muitas oportunidades, ele vai inaugurar, ele vai fazer o lançamento de algum programa, convoca uma rede nacional, às vezes isso é menos eficaz, mas nos atos que ele realiza ele pode se pronunciar fazendo o enfrentamento dessa questão. Por que, o que ocorre? Você está fazendo um Plano de Aceleração do Crescimento, e isso não é notícia em canto nenhum, isso só é notícia para dizer que é pífio, que empacou.

Paulo Henrique Amorim – O Globo criou essa expressão, o verbo empacar. Isso é um copyright do Globo.

Inácio Arruda – Uma aberração literária. Daqui a pouco, se o Houaiss tivesse vivo, ia ser obrigado a colocar no dicionário dele (risos). Então você veja a situação, se você tem o Plano de Aceleração do Crescimento... Eu sou cearense, nordestino e brasileiro ao mesmo tempo, como eu disse, só tem um senador do PC do B, nós temos que representar o país mesmo, mas veja que nós temos ali umas jazidas de ventos para a produção de energia eólica e nesse programa de incentivo a energias alternativas estão se montando ali, no Ceará e no Rio Grande do Norte, principalmente, grandes parques eólicos. Não tem uma manchete!

Paulo Henrique Amorim – O senador Agripino Maia parece que não percebeu isso.

Inácio Arruda - Não olha, não abre esse olho, parece que caiu uma trave... Não consegue enxergar.

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Charge de Sinfrônio para o Diário do Nordeste