quinta-feira, 20 de março de 2008

HOJE OLHEI O MUNDO...

Valter Moraes*

Hoje acordei olhando o céu e ouvindo os pássaros, rebusquei os tempos de infância, dos sorrisos, das histórias ouvidas, das alegrias que só uma infância poderia proporcionar, objetivando sem objetivar a própria vida, de sonhos e verdades absolutas que vem se desfazendo com o tempo, na dinamicidade que se impõe no buscar, no querer que é inerente ao próprio ser que se despoja das pequenas coisas exteriores e viaja nas dimensões do espaço perguntando o porquê da vida, das dores, das alegrias, de todas as belezas, da natureza fantástica na qual estamos inseridos como partículas energizadas, átomos que representam força sem comunhão, destruição, competição equivocada, alienação, que sonha com o imediato conduzido pelo mediatismo oportunista, desumano, covarde.

Sento-me na sala e vejo o canhão demolidor, o bicho que espreita sua caça, destruidor de inteligências, deturpador de conhecimentos, de culturas, propagandistas do que há de pior na contemporaneidade, que apertados em suas vaidades alimentam-se de seres produzidos pelas suas ignorâncias, na mortalidade induzidas pela aparência implantada nos cérebros que vomitam o que há de pior em toda essa mediocridade latente no submundo da corrupção eletrônica, endêmica, patológica, desprovido de sustentação para chegarmos a uma etapa de respeito a nós mesmos.

Busco nos livros um refúgio pelo menos para sair da ociosidade improdutiva, para não me perceber como um adulto infantilizado, vazio, voltado literalmente ao senso comum, sem a percepção desse universo humano conduzido para um projeto devastador, retrocedendo no tempo sem a percepção do caminho que estamos percorrendo sem sentir a realidade da desvalorização humana, dos valores invertidos ideologicamente e na utilização da ética pela moral e da moral pela ética restringida a conceitos particulares, eticamente estéreis, esquecendo-se do conjunto como se a miséria fosse uma coisa congênita, aceitável dentro do ascetismo que conduz para uma espiritualidade ascendente, camuflando a desproporcionalidade indigente indizível, submetida à leitura unilateral da sociedade submergente que apresenta as aberrações aparentemente fantásticas, estagnada em sua própria alienação.

Seria um dos caminhos a construção da humanidade dentro da igualdade desigual, já que devemos discutir a dialética em toda sua dinamicidade para não cairmos na estagnação mental que está sendo posto por este modelo reacionário, tecnologicamente revolucionário, venal e humanamente banal, intrinsecamente brutal para a salubridade do mundo que espera pelo menos um pouco de respeito e carinho pelo desenvolvimento gnosiológico e salutar da vida, para sermos usufrutuário das benesses produzidas por valores dignificantes e que vejamos o homem como ser universal e não mais como um autômato serviçal particular desse modelo escravista. Não podemos aceitar a destruição da humanidade nos omitindo das discussões responsáveis para o enfrentamento da prostitucionalidade a que estamos submetidos, nesse consumismo desenfreado e perverso que marginaliza uma maioria e acata os emergentes como uma coisa natural, pois tudo isto é fruto de uma economia concentrada, da máxima exploração do trabalhador, do submundo a que estamos vivendo, da passividade política, sem considerarmos e visualizarmos a luta de classes que está toda voltada para o bem ou para o mal.

E o que seria o bem e o mal? A luta pela dignidade, pela vida salutar, tudo isso exige sacrifícios para sua construção, ela não se externa simplesmente pela vontade individual, mas pelo entendimento do que poderemos enfrentar unificar, construir para combater as adversidades nas venturas da vida e vê-la bela em um mundo unificado, voltado para o todo e para todos.

*Valter Luis de Oliveira Moraes – Coordenador do Centro Acadêmico de Filosofia e Coordenador de Diretório Central dos Estudantes/2002 – Uesc – Universidade Estadual de Santa Cruz

Nenhum comentário:


Charge de Sinfrônio para o Diário do Nordeste