domingo, 29 de abril de 2007

A redução da maioridade penal é um disparate

"Acho que seria um disparate colocar na prisão um jovem de 15, 16 anos" – essa opinião foi manifestada por alguém que viveu todo o drama envolvido na questão da redução da maioridade penal, o advogado Ari Friedenbach, cuja filha, a estudante Liana, foi seqüestrada, estuprada e assassinada em novembro de 2003 por R.C., o Champinha, que na época tinha 16 anos de idade. "Defendi a redução da maioridade no pós-choque", disse o advogado. Mas, explicou, "com o tempo, elaborei meus pensamentos, discuti o assunto com especialistas, li muito", até chegar à conclusão que defende hoje.

Não é esta, contudo, a posição da maioria da Comissão de Constituição e Justiça do Senado que, dia 26, aprovou a PEC 20/99, que reduz a maioridade penal para 16 anos, e que atende a uma exigência histórica da direita e de setores conservadores. E que, tudo indica, seguirá caminho semelhante na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, onde o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), relator de 21 PECs semelhantes, anunciou seu parecer favorável à mudança.

Há um ranço revanchista nestas idéias, demonstrado pelo senador Demóstenes Torres (ex-PFL, atual DEM-GO), o relator da proposta no Senado, que comemorou a aprovação como uma vitória contra a esquerda. "Havia uma pressão grande, principalmente dos intelectuais que ainda estão naquele velho esquerdismo de acreditar que os crimes têm apenas causas sociais", disse ele.

O clamor da direita cresceu nos últimos meses, depois da morte trágica do menino João Hélio, de seis anos de idade, preso ao cinto de segurança do carro de sua mãe e arrastado por vários quilômetros num assalto, no Rio de Janeiro, que teve a participação de menores.

O caso, comovente e dramático , foi explorado sem escrúpulos pela direita e pelos conservadores - principalmente pela televisão - criando um ambiente de linchamento emocional cujo resultado pode ser visto em uma pesquisa recente que revela o apoio à redução da imensa maioria da população (80% do total).

O que a mídia não divulga são informações mais precisas sobre a criminalidade de jovens e adolescentes. Elas são, aliás, cuidadosamente escondidas pois desmontam o argumento conservador de que a criminalidade juvenil tenha aumentado. Os dados revelam que crianças e adolescentes cometem menos de 10% dos crimes ocorridos no Brasil, abaixo da média mundial, que é de 11,6%. E a maior parte (70%) daqueles crimes são contra o patrimônio (roubos e assaltos), enquanto 8% são atentados contra a vida, médias que se mantém por mais de meio século.

O governo, através de suas lideranças parlamentares - e pelas vozes do presidente Lula e do ministro da Justiça, Tarso Genro - repudiou prontamente a insana aprovação dessa mudança que contraria a Constituição Federal, cujas cláusulas pétreas garantem que os direitos humanos não podem ser reduzidos nem submetidos a qualquer deliberação. "Vamos fazer o possível para derrubar a proposta onde ela estiver", assegurou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Os que recusam a redução da maioridade penal estão amparados pela opinião de inúmeros juristas e entidades que reúnem homens do direito; entre eles o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos, a Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça da Infância e da Juventude, a Associação Nacional dos Procuradores da República, a Ordem dos Advogados do Brasil, etc. Cezar Britto, presidente nacional da OAB acusou a decisão da CCJ do Senado de ser o "caminho mais cômodo pegar o adolescente que por algum motivo cometeu um delito e jogá-lo no sistema carcerário brasileiro; mas devemos perguntar se o sistema carcerário do País, uma verdadeira escola do crime, é o melhor local para re-socializar esse adolescente", disse.

Posição semelhante é defendida pelo presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, que ressaltou o conservadorismo da decisão da CCJ do Senado. "Os mais ortodoxos estão tomando medidas autoritárias como forma de manipular a sociedade. Devemos apresentar caminhos para que o Brasil tenha outra argumentação. Políticas públicas menos repressoras e mais culturais", avaliou.

Há uma unanimidade entre estes opiniões sobre a inutilidade da criminalização de jovens entre 16 e 18 anos de idade. A solução - este é o clamor geral - é a melhoria efetiva da educação, com mais oportunidades para os jovens, o aumento na oferta de emprego e a melhoria na distribuição da renda.
Pior: a mudança na lei pretendida pela direita e pelos conservadores pode agravar a violência e a criminalidade na medida em que, ao invés de mandar os adolescentes para a escola, ameaça confiná-los nestes verdadeiros santuários do crimes, esta perversa espécie de escola profissional em que se transformaram as prisões brasileiras e que, antes de recuperar os internos, aperfeiçoam-nos no mundo da marginalidade e forçam ligações com organizações criminosas, que se fortalecem ao receber "mão de obra" fácil oferecida pelo Estado e pela estrutura penitenciária e judiciária.Mais escola e menos prisão, mais emprego e renda e menos abandono e punição. Educação ou cadeia para a juventude - esta é a tese defendida pela deputada federal comunista Manuela d'Ávila (RS) e pela União da Juventude Socialista que, no 1o. de maio e, depois, no dia 4, vai sair às ruas em Porto Alegre, contra a Redução da Maioridade Penal. Opinião compartilhada por aquele pai - o advogado Ari Friedenbach - que superou a dor de perder a filha num crime cometido por um jovem de 16 anos, e convenceu-se de que, "ao deixar centenas de milhares de pessoas sem escola, o governo cria o criminoso do amanhã. Não há política de segurança eficiente sem que seja acompanhado de políticas sociais".

Um comentário:

Anônimo disse...

A Coragem e alteridade de pessoas como advogado Ari Friedenbach nos enche de esperança. Certeza de que apesar de tudo caminhamos para um mundo mais justo.

Quem são em sua grande maioria os jovens deliquentes com 16 anos de idade?

Que oportunidades lhe foram oferecidas?

Ha quem diga ser a delinquencia uma questão de escolha? Será? Sempre?

Ha quem diga que a formação acadêmica não é tudo, que a educacação doméstica é também muito importante. que os jovens sem formação poderiam optar por um serviço mais humilde em vez de escolherem a marginalidade.

Os meios de Comunicação que esploraram tanto a questão do citado desastre, esqueceram de dizer que esses mesmos meios de comunicação entraram no ambiente doméstico desses jovens/crianças sem escrúpulo educaram esses jovens para o crime e portanto são corresponsáves.

Quais programas de televisão ensinam a humildade, o amor ao próximo, a tolerância.

Existe a preocupação dos meios de comunicação com aqueles que não tendo o que comer, o que vestir, não tendo a capacidade de discernimento que só a educação pode dar e que eles não tem acesso, quando a quase totalidade do que exibem assistem muito, por ser não raras vezes o único meio de informação e lazer, quando essas emissoras, determinam que para ser gente, para ser importante, pra ser reconhecido, tem que usar tal marca, estudar em tal escola, morar em tal país. Quando até os desenhos animados estão cheios de violência?

Quem responde por isso?

Ha quem diga que cada um assiste o que quer que é uma questão de escolha.

Uma criança pequena saberia escolher entre um apartamento com cobertura, vista pro mar, 03 carros na garagem, 50 anos de condomínio, supermercado, gazolina, vestuário, escola, faculdade pagos, e uma casa feita de chocolate, 30 sacos de balas coloridas, e sorvete de graça até ela ficar com 10 anos. Certamente ficaria com a segunda opção.

Uma Criança pequena e alguém sem oportunidade de educação, excluido, ignorado sem capacidade de discernimento é a mesma coisa.

Um abraço


Charge de Sinfrônio para o Diário do Nordeste